Apresentação
Historicamente, os sentidos que foram/são formulados em torno da designação Sertão estão atravessados pelo jogo imaginário, pelos estereótipos e pela discriminação que colocam em funcionamento processos de significação em torno do Sertão produzindo como efeito de sentido a projeção de um território inóspito, de um lado, potencializado pela seca, pela fome e pela violência; de outro, consequentemente, ressignificado pela (re)existência de seus habitantes que, em situações tão adversas, conseguem (sobre)viver. Como destaca Agra do Ó (2011, p. 27), é importante sempre lembrar que “muito da credibilidade de certas noções deriva apenas de sua repetição, e que os estereótipos e as categorias redutoras que emergem de verdades naturalizadas nos limitam ao invés de no favorecer”.
[…]
A análise dos discursos de e sobre o Sertão Alagoano nos remeteu a diferentes condições de produção do conhecimento linguístico na sociedade e na história. Ao articularmos o conhecimento científico da área de Letras às questões sociais e regionais, reforçamos o tripé fundamental – ensino, pesquisa e extensão – das universidades brasileiras e promovemos a articulação e a multiplicação de conhecimentos acadêmicos-eruditos e de saberes sociais-tradicionais. Além disso, criamos condições para que, de um lado, a sociedade tome conhecimento e reflita sobre os processos de produção de sentidos que são postos em funcionamento nos discursos sobre o Sertão e, de outro lado, para que ela contribua produzindo discursos de (do o Sertão) alterando assim os modos de dizer e de significar o Sertão Alagoano, produzindo práticas de consenso e/ou de resistência à institucionalização de sentidos sobre a região.
A presente publicação resulta, pois, das atividades desenvolvidas no âmbito do Projeto “Discursos de e sobre o Sertão: Língua, Memória e História”, desenvolvido, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (FAPEAL), no período de 2022 a 2025. Este projeto de pesquisa reuniu pesquisadores de diferentes níveis de formação acadêmica que tomaram a linguagem como objeto de análise e de interpretação dos processos históricos e sociais em torno do Sertão Alagoano. A obra está dividida em duas partes que compreendem, respectivamente, “Língua, história e memória” (Parte I) e “Linguagens, arte e cultura” (Parte II). Além desta coletânea, as atividades desenvolvidas no âmbito do referido Projeto de Pesquisa, nos permitiram organizar a Enciclopédia Digital do Sertão (EnciDiSer) que reúne um conjunto de verbetes com discursos do Sertão, organizado por estudantes do Curso de Letras, campus Sertão, que participaram das atividades do projeto. As pesquisas realizadas apontam para a pluralidade e para as potencialidades da temática aqui apresentada. O Sertão é um mar de possibilidades científicas, culturais e artísticas. Mergulhe!
Maceió, verão de 2025.
Débora Massmann